+ 1 Blues + Improviso + 1 Som - 21


        Em 2002, após quase uma década de rock, iniciei juntamente com amigos a banda de blues EscaliBlues (www.escaliblues.com.br), e depois de duas "demos" bem sucedidas junto com meus companheiros de blues resolvemos gravar um CD, queríamos registrar e ter um material que representasse a banda da época, e nossa sonoridade. Durante a escolha da lista a ser gravada, alguns elementos da gravação foram sendo improvisados, percebam que no blues e no jazz o quesito improviso é essencial e insubstituível, foram selecionadas então 3 canções para essa gravação que estavam há algum tempo no repertório ao vivo, e mais 3 canções que passariam a fazer parte do nosso repertório à partir dali. Dentre elas a versão "cabaret" de "From Four 'Till Late" de Robert Johnson, ainda entre as nossas elegidas para representar o som do grupo estavam 6 músicas de artistas que até hoje nos identificamos. Refizemos os arranjos na expectativa de mostrar através de sons conhecidos do público a nossas interpretações, ideia essa que sempre esteve presente desde o gênesis da banda, o blues revival/resgatado (blues and review). E por falar em resgatar... conto aqui alguns dos momentos da gravação desse CD "EscaliBlues 2008".

          O período da definição da lista a ser gravada foi breve, mas as surpresas ainda estavam por vir, o critério para escolha dos sons foi pensado de acordo com o tradicionalismo do estilo, gravamos num estúdio caseiro montado entre tapetes, carpetes, cortinas, biombos acústicos, guitarras, violões, piano acústico (de armário) e sintetizadores, contrabaixo elétrico e bateria. De acordo com registros de épocas entre os anos 30 e 60, gravações de musicais eram feitas ao vivo, aproveitando o melhor da acústica das salas e dos músicos, partindo desse conceito, gravamos a bateria em dois canais, sendo um microfone para o geral e outro para o bumbo, o que trouxe um som mais orgânico e conciso. Usando um computador pessoal e placa de som onboard, no espaço de duas semanas gravamos as baterias e "guias" (guias - faixa de áudio que serve como auxilio aos músicos na execução das gravações posteriores, overdubs) quase todas com direito a takes contendo diferentes nuances.
           Durante as semanas após o término das gravações da bateria, fiquei algum tempo conferindo o material que havíamos gravado; uma das partes me chamou a atenção que foi justamente o que gerou uma vinheta instrumental batizada de "Free" (esse nome faz alusão ao que também é conhecido como "jam", improvisação de músicos), antes de cada novo take de gravação testávamos o som dos microfones e volumes, e num desses testes percebi a nova música incrustada ali, ainda que sem lapidação alguma, criei o tema para essa parte instrumental, o Gustavo do Carmo (pianista), certa vez me ligou as 22:40 tarde da noite, dizendo que havia criado algo para complementar a parte rítmica para o tema, e se poderia ir gravar. Registramos a base e a "dobra" do tema da guitarra nessa mesma noite adentro. Na mixagem criamos dois ambientes, no lado direito ouve-se o órgão tocando o tema, e do lado esquerdo é a guitarra que toca o tema; usando o mesmo princípio do lado esquerdo o teclado toca a base enquanto do lado direito a base é feita pela guitarra.
           Mantivemos o foco nas gravações durante cerca de 6 meses, deixamos pro final as guitarras e vozes. Durante uma audição do CD junto com o Luiz de Bessa (baixista), já quase finalizando as mixagens, sentimos falta de um blues que remetesse a era acústica. Nos anos 90, havia feito uma versão que batizei de "Digam Ao Presidente", reorganizamos então a música para que coubesse dentro da atmosfera acústica e gravamos a nova versão num final de semana, essa faixa entrou para lista como se diz, "aos 45 minutos do segundo tempo". Essa canção foi gravada num clima bem tranquilo por isso mantivemos as conversas no início e fim da faixa.
           A faixa instrumental chamada "Spooky Boogie", foi composta originalmente como tema de abertura que fiz pra banda Dick Vigarista por volta de 1997. Com uma ideia "fusion", blues+rock+jazzy, contém teclados maravilhosos, e o baixo que se encaixou perfeitamente. No final da faixa ouve-se os aplausos que foram gravados durante a comemoração do fim das gravações, momento de descontrair e encontrar os amigos e aproveitar pra registrar a "farra".
           Sempre que penso em gravação, acho importante a ideia de "seguir em frente", e nada melhor que uma música autoral, nesse caso a primeira canção que propus foi um "blues arrastado" que tem como título "Leave Me", primeira canção que fiz em inglês com correções do "Master" Dawisson Lopes. Essa música foi feita numa tarde de chuva pesada, por isso inclui o som de trovões e chuva na introdução, somente por ter ficado marcado pra mim a ocasião.
           Não tenho dúvidas de que o período de gravação foi de muita dedicação de todos os participantes, pessoas que ajudaram direta ou indiretamente, o CD se superou em todos os aspectos inclusive no "Do It Yourself" - DIY (Faça Você Mesmo), agradeço novamente ao comprometimento de todos os envolvidos...


Obs. Solo A+:
           As composições próprias que citei neste post podem ser ouvidas no seguinte endereço da internet: (http://escaliblues.conexaovivo.com.br/). 

Espero que gostem e se divirtam, assim como foi divertido pra nós gravar...

Obs. Solo +B:
           Deixo aqui registrado minhas desculpas pois usei muitas expressões próprias do meio musical. Segue a lista das músicas que foram gravadas nesse CD:

>>EscaliBlues 2008

1. Brand New Cadilac (Vince Taylor)
2. Bad To The Bone (George Thorogood And The Destroyers)
3. Leave Me (EscaliBlues)*
4. From Four 'Till Late (Robert Johnson)
5. Jailhouse Rock (Jerry Leiber - Mike Stoller)
6. Digam Ao Presidente (EscaliBlues)*
7. Free (EscaliBlues)*
8. Stray Cat Strut (Brian Setzer)
9. Spooky Boogie (EscaliBlues)*
10. Stuck In The Middle With You (Bob Dylan)

A+Braços e feliz páscoa!!

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"Absolutum Est Casualis" 29-03-2013

Analógico + Digital - 20

           Já falei por aqui sobre equipamentos de áudio ANALÓGICOS e DIGITAIS que caíram em desuso, porém a necessidade de unir/somar (+) esse dois mundos é grande, devido ao avanço tecnológico alguns materiais ficaram mais baratos e de fácil acesso, a internet que veio pra agilizar o encontro e aproximar compradores e vendedores. Inicialmente os equipamentos digitais eram usados muito mais pela praticidade que pela sonoridade, até os bateristas passaram por esse período de adaptação e transformação, os timbres estão cada vez melhores ajudando a melhorar a qualidade do som e dar um maior conforto pra quem utiliza música como passatempo e ganha pão, a diversidade e facilidade em achar o básico é imensa, só sendo problema quando procuramos algo específico, instrumento ou marca, parts (peças de guitarra, baixo), raridades. Tudo pode ser mixado, e isso deveria tornar a música mais atrativa, interessante e criativa, o que nem sempre acontece.
 
           Quem assim como eu já ouviu fitas cassete, vinis, fitas de VHS, mídias analógicas; consegue prestar atenção na música e na produção de forma diferente aos acostumados somente ao áudio digital, falta o olhar da magia em torno da criação dos "takes" da gravação. Pensar que alguém fez aquele som gravando em um "rolo" de fita magnética, emendando muitas vezes e aproveitando canais da bateria ou de uma guitarra para fazer colagens e "overdubs", e "pilotando" a mesa de mixagem literalmente, num é fácil não, já vi isso de perto em algumas oportunidades. A era digital nos fez sem digitais, trouxe um som cada vez mais impessoal, sem marcas, sem cortes, com poucas inspirações e de pouca analogia. Quase tudo é possível musicalmente falando, simuladores, mini amplificadores, micro amplificadores, amplificadores virtuais (até em celulares?!), pedais de efeitos para guitarra virtuais e de touch, substituindo válvulas e transistores, fios e cabos. Se houve uma época em que os "puristas" lutavam contra a tecnologia que trocava válvulas por transistores, sinto muito em dizer amigos, mas a tendência da estação é de pancadas de chuvas ácidas e digitais, seguido de som frio e volumes cada vez mais altos; muitos  zeros e uns (0000011111), sendo essa a forma que os dados são transformados de analógico para digital. Mas acredito que ainda existam alguns elementos indispensáveis como guitarra, músicos e música.
           Mesmo que a evolução insista em bater a nossa porta diariamente, quem quiser ouvir o som de verdade de algum instrumento, pode usar um simulador/sintetizador, por samples (partes de áudio pré-gravadas), ou no melhor dos casos buscar os CDs com esses sons antigos e estudar essas referências, claro que o ideal seria conseguir uma boa vitrola e discos sem riscos, empoeirados ou não, ou talvez a gente possa procurar por músicos de fácil acesso e disposição que possamos aprender direto da fonte. Complicou né... 
           Embora o tempo siga sua marcha contínua, recriações digitais de velhos equipamentos analógicos, sendo físicos ou virtuais, nos dão pelo menos uma pequena noção, ainda que na tentativa somente visual e saudosista de relembrar a atmosfera de uma época. Mesmo as imitações/recriações viram peças de colecionador, pois os equipamentos propriamente ditos são na maioria das vezes de difícil acesso, e tem seu alcance limitado ao bolso e a linha do tempo do consumidor/colecionador/amante.
           Num curto espaço de anos, vi muitos equipamentos se tornarem obsoletos, disquetes, filmes fotográficos de rolo, fitas K-7 (cassete), fitas de VHS, porém muitos equipamentos ainda resistem ao tempo e a evolução, as guitarras ainda são feitas de madeira, cordas de metal, músicas feitas por músicos, arte feita de sonhos, que fazem a trilha sonora dos nossos dias por aqui.

Obs. Solo A+:
           A evolução dos equipamentos usados em música muitas vezes deve-se a comodidade, devido ao avanço da tecnologia dos circuitos eletrônicos, muita parafernália ficou pequena, a praticidade levou ao som elementos que só eram possíveis com muitos fios e quilos de aparatos, a qualidade sonora oferecida pelas novas ferramentas é mais clara e límpida, sem ruídos.

Obs. Solo +B:
           Nada como encontrar uma fita velha, encostada, esperando a hora de ser ouvida novamente e despertar memórias através inclusive de defeitos de uma gravação há muito esquecida, trazer a tona velhas canções que não são mais propagadas, diversão garantida!! Ao meu amigo Adriano Borçari meu merecido obrigado...

 
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"Absolutum Est Casualis" 22-03-2013

Em Outros Canais + Música - 19

           Ao final dos anos 80, ainda enquanto criança, conheci alguns grupos infantis que despontaram devido a divulgação da TV, o Balão Mágico, Trem da alegria, Daniel Azulai, e depois como pré-adolescente, Castelo Rá-Tim-Bum, Cocoricó e outros que naquela época já não soavam tão interessantes, pois é a gente cresce. Não é de hoje que a realidade não é mostrada aos muito jovens, e eles acabam assistindo quase sempre novelas e os programas que não são "feitos para eles". Como já disse por aqui, tinha um passatempo em meados dos anos 90 que era colecionar vídeos dos artistas que eu gostava da TV, e não eram poucas as oportunidades, muitos dos programas que eu assistia já não existem na grade de programação dos canais, e fazem falta pois impulsionavam os novos sons para dentro das casas.

           Não diferente dos jovens ocidentais de classe média sendo "A", "B" ou "C", acompanhei fincando horas diante do televisor a espera de programas de musicais nos quais conheci e passei a desejar novas aparições dos artistas muitos em primeira mão, bandas como: Os Mamonas Assassinas, Os Raimundos, Virna Lisi, Dr. Sin, Chico Science & Nação Zumbi, Patu Fu, J. Quest (depois Jota Quest), Wilson Sideral, Skank. Muitos destes eram artistas que se tornariam sucesso nacional e que tiveram suas estreias em programas de auditório. Alguns dos que mais segui foram também de grande audiência, tais como: Bem Brasil (TV Cultura), Programa livre (SBT), Programa de Música (Rede Minas), Domingão do Faustão (Globo), O+ (lê se "O positivo" - Bandeirantes, que depois viraria H). 
           Engana-se quem pensar que somente as bandas pop ou rock tinham espaço, vi grupos como: Joelho de Porco, Ratos de Porão, Banda Taffo, Viper, Inocentes. Como fã de música que sou, nunca escolhi canal como quem escolhe um candidato ou partido, time ou autor. É importante buscar o valor de cada coisa em seu devido lugar, e de alguma forma discordo da frase que diz que "...nada fica pra semente...", tudo bem... mesmo que o contexto seja outro, já estive imerso no universo criado pela TV, e sei que se não fossem as referências as quais fui exposto diante dos vídeos, muito provavelmente não me interessaria por música. A culpa é da TV... Viram!
           Atualmente me pergunto: O que os jovens podem aprender do valor da música? E dos instrumentos? Principalmente dos valores vindos da TV? O que os pequenos realmente aprendem diante das telas nos programas? Daqueles que tem musicais inseridos. Claro, mesmo sabendo que não há programa televisivo que substitua um professor/mestre, ainda assim posso me dizer um afortunado, tendo passado horas a ver e ouvir, e posteriormente repetir e tentar reproduzir diversos dos sons, gestos e até trejeitos; ainda que somente por pura diversão ou mesmo pra testar minha capacidade motora. 
           Já ouvi dizer "somos o que ouvimos" ou ainda "somos produto do meio em que vivemos...", realidade tão crua atualmente, criadas desde os bastidores das estações de TV, e que invadem os lares mostrando o que querem. Parte do que é música através da mídia televisiva é imagem, concordando ou não com o visual; controvérsias à parte, mesmo ridicularizando o aspecto visual, seja por extravagância, ou seja, pela falta de identidade com a tribo da qual cada um qual participa, apresentador e apresentado tem como foco objetivo diferentes. 
           Não aproveitei os resquícios do que já foi um dos mais importantes movimentos culturais e de entretenimento em massa para jovem brasileiro no final dos anos 60, meus pais que o digam, sentiram a euforia que se transformava em moda e comportamento, e que ganhava as ruas ao fim de cada um dos programas da "Jovem Guarda" ou dos "Festivais da TV Record", revistas com as letras/textos das músicas dos festivais, roupas, penteados. Portanto queridos telespectadores, cuidemos para não vivermos só e a sós do passado, mas sim de futuro... presente... "O ontem é história, o amanhã um mistério, o hoje é uma dádiva, por isso se chama presente!" (M.O.)
 
Obs. Solo A+:
           Nos rodapés dos vinis antigos vinha a inscrição: "Música é Cultura", acredito nisso, assim como acredito também que "Assim como comida está para o corpo, música está para a mente/consciência/alma!"

A+Braços!
 
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"Absolutum Est Casualis" 15-03-2013

Rock + Brasileiro - 18

            Pra quem gosta de rock e acompanhou algumas das bandas dos anos 80 (roupas coloridas, cabelos pintados e um sorriso sempre no rosto. Sim, eu tenho certeza que eram os anos 80) ou ainda dos anos 90 daqui do Brasil, sabe como era comum ver a moçada do rock de cabelos compridos e anéis nos dedos, jaquetas de couro, botas e calças de veludo, camisetas de bandas, tênis e calças largas, camisas de flanela xadrez e guitarras em punho; eu mesmo já tive madeixas e também calças de veludo e ainda uso minhas camisas de flanela. As vertentes estavam presentes no som e no visual de quem tocava nas bandas, a magia corria a olhos nus e pelas veias de quem sangrava através de sonhos e sons, de quem enxergava através da música uma tentativa de fuga da realidade dura e anti-cultural, que é disseminada por aqui desde sempre.
            Na cidade onde moro, ao final dos anos 80, haviam bandas como: Urbe At Orb, Cancro, Candelabro, Outubro Vermelho, Expresso TPC, banda U.R.S.S.O e depois já nos anos 90, a banda Smoo, Legião Urbana Cover, banda V.I.P, Madame Cruela (depois M. Cruela), Coringa (depois Ferro Véio), Hanna Barbera, Bândida e Dick Vigarista. Era muito comum dentro dessas bandas músicas autorais, sempre tinham algo novo pra mostrar e claro que isso gerava críticas, o que também pode ser muito saudável e de alguma maneira criava um movimento criativo interno e entre as bandas que foram contemporâneas. Algumas vezes o embate era brutal, mas que deixaram uma história marcada em cada um dos que participaram desses grupos.
            Acompanhei algumas das grandes bandas, nacionalmente falando: Legião Urbana, Barão Vermelho (já com o Frejat), Engenheiros do Hawaii (ainda como trio), Os Paralamas do Sucesso (antes do acidente do Herbert), Ultraje à Rigor, Titãs (com a formação original), Ira, Lobão (já sem os Ronaldos), Angra e outras acabei ouvindo um pouco depois: Hojerizah, Plebe Rude, Biquini Cavadão, e ainda as que fui somente contemporâneo, mas que me influenciaram pouco também, Uns e Outros, Nenhum de Nós. O Raul Seixas que na minha época de banda já havia partido fazia alguns anos; o RPM que acompanhei de tabela e que já estavam separados, o Cazuza já muito debilitado, em belo horizonte o Virna Lisi, o Patu Fu que assisti a algumas apresentações em praças quando eles ainda eram uma banda quase "experimental", bateria eletrônica, colagens sonoras, pads de bateria e os tais 128 japoneses (referência ao MIDI), sempre quis saber quando se apresentariam e de onde vinham aquelas vivências transmitidas através das letras/textos das composições.
            O rock "clássico" é como uma religião, há quem diga que morreu, há quem diga que está vivo nas atitudes de quem compra uma guitarra (será?!), como isso aí é assunto que pode gerar controvérsias, prefiro entender que rock brasileiro não é apenas rock. É notório em festivais internacionais de música a diferença que existe entre o rock raiz (americano), o rock inglês e o rock da nossa terra (brasileiro-tupiniquim) e todos são muito marcantes, e de características próprias. Duvido que os grandes nomes do estilo (ou os que ainda criam algo) estejam pré-ocupados com essas divisões estilísticas de mercado, muitos deram prova de que podiam e fizeram o que entendiam, pois tinham como consideração a música como ARTE (Música=Arte). Manifestação de comunicação e expressão, alguns com mais habilidade, sensibilidade. Ideias fluem de onde se tem o que dizer, ou pelo menos deveria ("Não vou falar por falar, canto uma canção bonita, que fale de um tempo bom" ÂBS).
            Se for procurar algo sobre rock brasileiro notará que existe pouquíssima coisa no período pós anos 90, de 2000 em diante praticamente só temos cópias de cópias de fórmulas que deram ou não certo (o que é certo? Errado!?), a verdade é que na maioria dos casos, quando se faz rock brasileiro, são claras as influências culturais regionalistas, folclóricas, tradicionais e até bairristas, as fusões com o que agrada mais aos que ouvem e fazem a "nova" música.
            Muitos se foram deixando um legado inegável, biográfico e inspirado, tinham a capacidade de se sensibilizar com os problemas/fatos do dia a dia, e transformar em lições através das canções, quase hinos; ícones de uma geração que vinha cansada da mesmice, do poder ditatório, e de uma mídia tendenciosa e covarde, ícones esses que fazem tanta falta em tempos de "made in china". Perdemos a cada passo a imagem no espelho quando retrocedemos, não reconhecemos mais quem somos e de onde viemos. Andamos tanto pra chegar até aqui que ao olharmos o caminho percorrido perdemos a vista da estrada, já não vemos as curvas, o vento que leva e trás também apagou nosso rastro. Corremos atrás e chegamos atrasados.


Obs. Solo A+:
           Reconhecer, aceitar, admitir, aproveitar, entender, descobrir... o tempo que vem e que vai numa velocidade que não escolhemos nos torna duros e autocríticos, mas que nem sempre nos ensina, fecha os olhos como resposta ao que deixamos cair e nos apanha abatidos no chão, enquanto fingimos ser só mais um dia.
 
"Sua velha estrada
Está rapidamente envelhecendo
Por favor saiam da nova
Se não puderem dar uma mãozinha
Pois os tempos estão mudando" B.D.

 
Obs. Solo +B:
           Dedico esse post a essa moçada velha de guerra, entrincheirados do rock brasileiro. Carinho e respeito a todos! "Viagem é tudo, bagagem é muito, a estrada é mais." ÂBS + Obrigado!


A+Braço e desculpem pelo atraso de hoje.

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"Absolutum Est Casualis" 08-03-2013
 





Tempo de Somar (+) e tempo de Semear - 17

            Tenho estado ocupado com a gravação do CD "A+B Solo" e por vezes me deparei com a linha do tempo que as canções nas quais estou trabalhando percorreram. A maioria das músicas foram feitas a no mínimo 15 anos atrás, o que não impediu que os discursos ainda sejam convincentes, porém percebo que seria impossível gravar o que estou fazendo agora, lá em meados dos anos 90, pois nem era tempo de colher, nem de semear. É preciso entender que há a hora certa e que muitas vezes, deixar passar o momento do impulso pode ser de maior proveito ("O que vale a pena possuir, vale a pena esperar"), provavelmente na época que fiz as canções era tempo de preparar o solo (A+B Solo?!), e assim como um agricultor, é necessário saber o tempo de plantar, de esperar, colher; e alterar essa ordem pode ser fatal a colheita.

            Nem entendo de plantação, nem de agricultura, mas reconheço nessa lida conhecimentos quase filosóficos sobre o tempo, e sobre a natureza, escolher boas sementes, acreditar, perseverar, colher os frutos, tudo isso fica muito bonito no texto, fica melhor ainda quando consigo passar isso pro meu dia-a-dia, procuro ser coerente. Se não posso passar o sinal vermelho às 6 da tarde, às 6 da manhã também não ok!
            Enquanto preparo as listas do que vou gravar (anoto tudo em arquivos *.txt, inclusive esse texto), fico tentando adivinhar qual será a reação das pessoas ao ouvir determinadas músicas, porém quando já estão gravadas e prontas perco essa curiosidade, e acabo ficando preparado para as reações também. "Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela." A.C. Durante os anos enquanto guardava algumas das canções que vão se materializando, passei por diversas fases na minha vida, entre viagens, amigos e paixões... mas nem sempre o mais importante é chegar ao melhor lugar, é não estagnar, e isso posso dizer que me livrei, nunca fui de ficar esperando, claro que algumas situações requerem cautela, dar tempo ao tempo, ficar quieto e começar tudo de novo. Passei fases de muita seca, provavelmente a fonte que eu estava buscando já havia se esgotado.
            Digamos que a experiência tem sido polinizadora das ideias de muitos que convivem e são contemporâneos, o tempo então seria o solo, imaginemos os antigos criadores de arte pelo mundo afora, muitos diriam que tiravam água de pedra, acho que a coisa era um pouco diferente como sabemos, viagens inspiram, o canto de pássaros ou o silêncio, tudo tem sua "graça" aos olhos e ouvidos atentos e intencionados.
            "Quem planta vento, colhe tempestade", quantas vezes esperamos que a chuva caia e nos traga um alívio ao calor, e venha regar as plantações e jardins, e outras vezes vem com força tamanha, arrastando tudo pelo caminho. Em tempos de artistas sem adubo, ideias hidropônicas são produzidas, consumidas e distribuídas a todas as mídias, a cultura não só é necessária para se ter um entendimento maior do que somos (sociedade), mas também para subsistirmos (humanos), entendendo que todos precisam se alimentar corpo e alma. Plantamos para conseguir alimentos, fibras, energia e até mesmo por prazer estético. Aos que nada plantam, NADA colhem, a não ser que se queira roubar no quintal do vizinho.

Obs. Solo A+:
            Sementes estão por aí, é preciso dar chance a elas para que se tornem brotos e árvores e que se desenvolvam e gerem frutos, "Se você plantar um pessegueiro terá pêssegos, você pode querer uma maçã ou uma laranja, mas mesmo assim terá pêssegos." M.O.

Obs. Solo +B:
            Fato1: O processo de criação então é praticamente como arar a terra, preparando o terreno para o que virá.
            Fato2: HUMILDADE: Essa palavra vem de "humus", aquilo que se acha na terra, pó.

Obs. Solo A+B:
         Pessoal, o Blogger não me repassa alguns dos comentários, em especial os que são feitos de celular e tablets, por isso por favor ao fazerem um comentário, coloquem como anônimo, e coloquem o nome dentro do comentário, ou mandem para o E-MAIL. Obrigado.
"Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado"
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"Absolutum Est Casualis" 01-03-2013